segunda-feira, 2 de julho de 2012

Nos tempos da brilhantina em Jandaíra

Foto Divulgação: John Travolta e Olivia Newton-John, Nos Tempos da Brilhantina.



Hoje em dia, um fato gerador de notícia chega a todas as partes do mundo com uma velocidade espantosa. Mas, nos tempos em que tínhamos apenas o rádio AM e poucos aparelhos de TV, o mundo era apenas o ambiente em que vivíamos e o cenário das novelas da Globo, o Rio de Janeiro, uma ficção.

Na minha infância e parte da adolescência, o universo era Jandaíra, um mundo minúsculo que para todos que viviam ali, era, como dizem os jovens de hoje, “tudo”. Era um mundo em que não havia drogas, tinha pouco sexo e um pouco de rock in rol. 

Por falar em música, em um mundo bem distante do nosso, o cinema consagrava John Travolta e Olivia Newton-John. Nos tempos da brilhantina, os jovens do nosso mundo se divertiam no Clube de Dona Luci e em algumas festas da Churrascaria. 

Era um tempo em que a informação demorava uma eternidade, comparando a velocidade moderna. Roling Stones, Guns N´Roses, Pearl Jam, Green Day, legião Urbana, não tínhamos acesso a nada disso. Os nossos ídolos na música não eram as grandes bandas nacionais e internacionais, nos contentávamos com Terríves, Impacto Cinco, Banda Mix e Grafite, a sobrevivente.

As festas da Churrascaria também demoravam muito a acontecer. Talvez, por isso, cada festa era um marco na cidade. Durante semanas, nos preparávamos para o grande evento. As costureiras e vendedoras de roupas tinham o trabalho dobrado. 

Quando chegava a esperada noite, os rapazes apareciam embalados a vácuo com suas calças apertadas e camisas de manga longa, ensacadas, cheirando a Azarro. Já as moças, meu deus, como eram apaixonantes, meigas, femininas, vestidas de babadinho até o joelho provocavam uma competição acirrada entre os rapazes. O vencedor era aquele que conseguisse deixar uma delas em casa no final da festa.

O grande show começava com a banda tocando discoteca, música dançante. Roberto dos Terríveis nos presenteava com interpretações perfeitas dos Bee Gees, música boa e bem executada. Também tinha uma loirinha da Bahia que aparecia dançando nos programas de TV. As moças assistiam e ensaiavam, em casa, pra mostrar na festa, Sarajane ensinava as coreografias do axé. 

Depois era o forró. Naquele tempo, a música nordestina ainda mantinha um pouco da originalidade, não tinha tanta influência dos eletrônicos de hoje. Por último, chegava a hora de escolher aquela que iriamos deixar em casa. Era a hora da música lenta. Assim conhecíamos, por meio dos Terríveis, o som de Phil Collins, Eltom Jonh e Lionel Richie, no momento em que a conquista estava prestes a acontecer.

O ritmo lento proporcionava o clima de aconchego e de conversa no pé do ouvido. Pra falar a verdade, não me lembro de muita conversa não. Era só chamar pra deixar em casa e se ela topasse, a noite estava ganha.

Por falar nisso e naquilo, a cidade era pequena, mas o caminho era longo. Demorava muito para ser percorrido porque deixar a moça em casa, meus amigos, era o melhor da festa. E podem ter certeza: Elas eram moças mesmo, boto a minha mão no fogo. E, se nesse caminho deixasse de ser, o cabra tinha que casar. 

Antes do amanhecer, havia o café do mercado. Enquanto os feirantes armavam as barracas para um dia de trabalho na feira livre, o picado com tapioca no coco de Dona Maria Gaita recuperava as energias e afugentava qualquer ressaca.

Eh tempo bom, não volta mais! Eram os tempos da brilhantina em Jandaíra. Tempo em que o universo era apenas o meu mundo. O mundo em que eu era feliz, não sei os senhores, mas eu sabia!


Wendell Câmara

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