quinta-feira, 12 de julho de 2012

A cachaça de Chico é melhor que a de Obama

Quando a nossa presidente visitou o presidente dos EUA e lhe deu uma garrafa de cachaça de depresente, não por acaso, lembrei de alguns episódios em Jandaíra. Um deles relatei no facebook e agora compartilho aqui: 

A notícia de que a presidente presenteou Obama com uma garrafa de cachaça lembrou aquele astronauta brasileiro que participou de uma missão espacial patrocinada pelo governo do Oxum de Nove Dedos.

Em comum entre os dois eventos, o desperdício de dinheiro público. Até hoje, não sabemos o que danado o Vampeta das Estrelas foi fazer na lua. Lembro que ao ser entrevistado pelo presidente o astronauta, na nave espacial, recebia orientação dos marqueteiros do governo para ficar se balançando, flutuando, enquanto conversava com o presidente.

Confesso que não lembro o nome do sujeito. Estou de frente para o mar, na praia da redinha, a meia noite, olho as luzes de sinalização do porto, duas vermelhas e uma azul acendendo e apagando, vejo as ondas da maré de claro alumiadas pelo clarão do luar, faço um tremendo esforço, gasto alguns dos poucos neurônios que ainda tenho, mas só consigo lembrar o apelido do astronauta.

Também lembro que havia alguma coisa parecida com experimentos na área de cultivo de alimentos em micro gravidade. Na época, a comunidade científica criticou bastante o uso do dinheiro, foi um gasto muito alto para experimentos pouco úteis. Alguns cientistas afirmaram que os recursos poderiam ter ajudado em vários projetos mais importantes.

Um dos neurônios ligou a cachaça a viajem do astronauta porque o desperdício de 212 reais com uma garrafa de cachaça para dá-la de presente a um cara, que nem é o cara, e assim mesmo não vai nem tomar uma lapada, na minha terra é um desperdício tão grande quanto à dinheirama enviada à lua.

Duzentos e doze reais no alpendre da casa da Rua Chico das Chagas Fernandes, em Jandaíra, daria pra deixar um bocado, ao menos, triscado.

Certa vez, estava eu, no pé do portão, quando apareceu um sujeito e me pediu uma ajuda para comprar o eixo de uma carroça. Como ele realmente possuía uma e contou que iria usar a dita cuja para entregar água e ganhar dinheiro suficiente para botar comida na mesa, resolvi ajudá-lo.

Dias depois, me chega outro sujeito e diz: Wendell, foi você quem comprou o eixo da carroça e deu a Chico? Eu já nem lembrava mais de carroça alguma, mas o camarada insistiu: foi você quem deu o dinheiro pra Chico de Zefa comprar o eixo da carroça dele? Foi aí que eu lembrei e confirmei, indagando o porquê da pergunta.

A resposta me deixou bem preocupado. O sujeito afirmou que a esposa de Chico estava fumando numa quenga porque Chico, a partir daquele dia, só vivia bêbado as quedas.

O camarada todo dia botava água nas primeiras horas da manhã e em seguida partia para um Morre em Pé e gastava todo o apurado. No primeiro encontro que tive com Chico, tratei de resolver logo à parada: Chico, você não disse que ia usar o dinheiro da carroça pra fazer a feira de casa rapaz?

Chico respondeu: Ôpa! Peraí! Fazer a feira não! Eu disse que ia botar comida na mesa e isso eu tô fazendo! Va lá e pergunte a ela, se todo dia eu não mando deixar o almoço de casa.

Depois fiquei sabendo que Chico, todo santo dia, mandava deixar parte do tira-gosto em casa. Se com quarenta reais, Chico ficava bêbado diariamente e ainda alimentava a família, imagino com 212.



Wendell Câmara

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