terça-feira, 6 de novembro de 2012

Causos de Jandaíra.


Além do saboroso mel medicinal, do futebol do Matutão e da poeira, a cidade de Jandaíra sempre ganhou notoriedade por ser ponto de parada das arribaçãs. A ave, nativa do continente africano, atravessa o oceano em busca de comida e encontra, na mata jandairense, uma planta chamada Marmeleiro.

Com a chegada do período chuvoso, a flora do Marmeleiro é o prato principal das arribaçãs, mas a caça predatória da ave sempre foi alvo de combate da polícia ambiental, antiga florestal, por ser uma ave condenada à extinção, segundo estudos ambientalistas.

A fiscalização ambiental não se restringia aos caçadores. Eram comuns fiscalizações em bares, restaurantes, veículos automotivos e até em veículos de transporte de cargas.

Certa vez, o bar de D. Joaquina recebeu um cliente muito despojado a gastança. D. Joaquina era uma idosa que tinha um barzinho, ao lado do posto de gasolina, ponto de encontro de uma das malocas mais animadas e criativas da cidade. O cardápio do bar oferecia, basicamente, cachaça e no período da postura arribaçã.

O cliente chegou, pediu uma doze da branquinha e perguntou o que tinha de tira-gosto. D. Joaquina, apesar da idade e experiência, foi logo oferecendo a especialidade da casa: arribaçã torrada. O cliente gostou tanto que quis levar algumas em sua viagem.

A veia, então, foi logo oferecendo algumas que havia na geladeira. Insatisfeito, o rapaz disse que tinha dinheiro suficiente para levar todo o seu estoque.

Com a felicidade nas alturas, imaginando que tinha feito o melhor negócio da sua vida, D. Joaquina foi pra cozinha e chamou o neto pra lhe ajudar: “vem cá, meu Nelo (Nilo), acabei de vender a ribaçã todinha”. 

O jovem magro, corpo atlético feito jogador de buraco, pegou as sacolas e se dirigiu ao bar. Quando, de repente, percebeu que o rapaz, aparentando ser viajante das estradas que ligam a capital potiguar a região salineira do Estado, na verdade, era um samango a serviço da antiga Polícia Florestal.

Triste e espantada com a apreensão da sua mercadoria, D. Joaquina era só lamentação dizendo ao neto: “Mas, meu Nelo, eu pensei que ele ia pagar”.      
 
    

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