Policial desabafa: “Temos que rezar para não acontecer nada. O nosso efetivo é de apenas um policial por dia. Estamos abandonados, isso é uma vergonha”.

Abandono, vergonha, indignação, revolta, fracasso e humilhação. Os substantivos resumem o sentimento de um policial militar do interior do Estado e o cenário da segurança pública do Rio Grande do Norte. As palavras foram pronunciadas por um sargento da polícia militar, lotado no município de Jandaíra, durante entrevista a produção do Blog Jandaíra News.

O município fica a 117 km da capital, na Região do Mato Grande, as margens da BR 406, estrada que liga Natal a Macau, e possui pouco mais de 6.800 habitantes de acordo com o IBGE. 

Para fazer o trabalho de segurança da população, a delegacia do município, que é administrada pela polícia militar, possui apenas um policial de plantão por dia.  De acordo com informações do sargento Ezio luiz Gomes da Fonseca, apenas nos finais de semana, o município conta com três policias de plantão, mesmo assim, essa é uma ação realizada por conta dos próprios policias, que não recebem incentivo algum do Governo do Estado, para atender as necessidades da população, no período compreendido entre a noite da sexta e a manhã da segunda feira.

Tomando como base os estudos das organizações das nações Unidas (ONU), que recomenda um número de 1 policial para cada 250 habitantes, o município de Jandaíra está com uma carência de 26 policiais, por dia, durante a semana. 

Segundo Ezio Luiz, a situação do destacamento local é humilhante e vergonhosa. Para ele, o governo abandonou os profissionais da segurança pública no interior do Estado. Além da falta de efetivo, os policiais não tem estrutura para combater o crime.

"A cidade de Jandaíra é uma mina de ouro para os bandidos".

“Aqui em Jandaíra, nós temos que rezar para não acontecer nada. Como é que um policial sozinho vai enfrentar uma quadrilha extremamente armada? A cidade de Jandaíra é uma mina de ouro para os bandidos. Aqui tem caixa eletrônico do Bradesco, da Caixa Econômica, tem o comércio, os pagamentos dos aponsentados, o correio, portanto, é uma cidade que corre dinheiro. Se eles quiserem, eles chegam, assaltam e ninguém pode fazer nada”. Desabafou o sargento.

Outro problema apontado pelo policial é a organização do efetivo na região. O efetivo disponibilizado para Jandaíra está subordinado à companhia de policiamento de Macau, cidade distante de Jandaíra em mais de 60 km, e na hora de pedir reforço essa distância é complica ainda mais a situação. Segundo ele, o problema poderia ser amenizado se o efetivo local fizesse parte da companhia de João Câmara que fica a 40 km. 

Perguntado sobre a falta de efetivo, o policial foi taxativo: “O problema da polícia militar é que uma quantidade enorme de policiais não quer trabalhar nas ruas. Eles preferem ficar em gabinetes. Muitos policiais estão nos tribunais, nas assembleias, a disposição de gabinetes, nos quarteis e quando alguém entra na polícia, fala com um político e dá um jeitinho de se livrar do trabalho nas ruas. Eu sou uma vítima desse sistema vergonhoso. Se você quer saber: ninguém, ninguém quer vir para o interior. Eu também vou pedir licença para tratar da minha saúde e não sei como vai ficar aqui”. Concluiu o sargento.

Assaltos

Na tarde desta terça feira (04), a agência dos correios de Jandaíra foi assaltada por dois homens. Um deles entrou na agência e rendeu o agente e o carteiro, o outro permaneceu à distância dando cobertura na fuga. Os dois assaltantes fugiram em um veículo não identificado. Durante a ocorrência, o policial estava sozinho na delegacia e quando foi chamado, após a fuga, não teve a menor condição de agir.         

No último sábado (01), uma quadrilha armada e encapuzada manteve o proprietário de uma farmácia e a família em cárcere privado, durante horas, enquanto roubavam um caixa eletrônico da Caixa Econômica Federal e procuravam por um suposto cofre contendo uma quantia em dinheiro. O assalto não foi percebido pelos moradores da cidade e os bandidos fugiram sem levantar suspeitas.