Casos de irmãos unidos pelo corpo ocorrem a cada 200 mil nascimentos. Este pode ser o primeiro relato de união pelo cóccix registrado no Brasil.
Siamesas tem órgãos e membros independentes
e compartilham somente o mesmo ânus
(Foto: Ricardo Araújo/G1)
e compartilham somente o mesmo ânus
(Foto: Ricardo Araújo/G1)
Eucivânia Cunha amamenta uma gêmea de cada
vez (Foto: Ricardo Araújo/G1)
vez (Foto: Ricardo Araújo/G1)
Eucivânia Cunha e as filhas Ana Clara e Any Vitória, gêmeas siamesas que nasceram unidas pelo cóccix em Natal no início deste mês de setembro (Foto: Ricardo Araújo/G1)
Angelo Silva Neto, neurocirurgião que acompanhou
a gestação das gêmeas siamesas
(Foto: Ricardo Araújo/G1)
(Foto: Ricardo Araújo/G1)
Radiografia detalha parte do corpo, cóccix, que une
as irmãs gêmeas siamesas Ana Clara e Any Vitória
(Foto: Ricardo Araújo/G1)
(Foto: Ricardo Araújo/G1)
Para a dona de casa Eucivânia Cunha, de 27 anos, seria
apenas mais uma gravidez. Entretanto, na 11ª semana de gestação, a surpresa:
"O médico fez minha ultrassonografia, perguntou se eu já era mãe e me
disse que eu estava grávida de gêmeos. Ele me disse que eu estava numa gestação
gemelar com os gêmeos colados", relembrou Eucivânia contemplando Ana Clara
e Any Vitória, as meninas que nasceram unidas pelo cóccix (região glútea).
De acordo com o neurocirurgião Angelo Silva Neto, que acompanhou a gestação
de Eucivânia e o nascimento de Ana Clara e Any Vitória, este é um caso raro. É,
segundo o médico, possivelmente, o primeiro no Brasil cujos gêmeos são unidos
pela região glútea. "Os bebês serão submetidos a um procedimento cirúrgico
para separação corporal", disse ele.
"O caso dos gêmeos pigópagos, que são aqueles ligados pela superfície
póstero-lateral da região sacro-coccigeana, é raríssimo. Geralmente ocorre um
caso de gêmeos siameses a cada 200 mil nascimentos. Em relação aos pigópagos,
eles se resumem a 20% dos casos de siameses. Ou seja, é a raridade da
raridade", esclareceu o neurocirurgião.
Nascidas no dia 12 deste mês em um hospital da rede privada de Natal,
as meninas se desenvolvem dentro do que é considerado normal pela equipe médica
que as acompanha. Elas amamentam como os demais bebês, tem órgãos internos e
membros superiores e inferiores independentes, respondem a estímulos, não
aparentam retardo mental e emitem sons comuns aos recém-nascidos.
A diferença é que, em decorrência da união coccigeana, elas compartilham o
mesmo ânus. A união corporal de Ana Clara e Any Vitória ocorreu no final da
coluna vertebral, o que reduz os riscos de sérios danos ao desenvolvimento das
recém-nascidas. "Os riscos são menores pois elas não estão ligadas pela
médula. Poderão ficar sequelas, quando da separação dos corpos, pois há a
comunhão de alguns nervos. Entretanto, elas poderão ter vida normal após a
cirurgia", esclareceu Angelo Silva Neto.
Apesar dos riscos do procedimento cirúrgico, os pais de Ana Clara e Any
Vitória decidiram que as filhas serão operadas. "Fiquei assustada no
início, mas entreguei a Deus", ressaltou Eucivânia Cunha. O neurocirurgião
confirmou que está orientando os pais das gêmeas e a cirurgia para separação
dos corpos não ocorrerá num curto intervalo de tempo. É preciso que as meninas
completem pelo menos nove meses de vida, fortaleçam o organismo e multipliquem
hemoglobinas para passarem pelo procedimento cirúrgico.
"As dificuldades da cirurgia se concentram na perda acentuada de sangue
pelos bebês e na questão da separação do ânus. O caso deve ser muito bem
estudado pois irá refletir no cotidiano das crianças quando elas estiverem mais
velhas. Iremos avaliar se criaremos um ânus com a mucosa existente no corpo de
uma delas ou se adotaremos a colostomia, que consiste na colocação de uma bolsa
artificial para eliminação das fezes", advertiu Angelo Silva Neto.
Diante da complexidade do processo cirúrgico e da impossibilidade de ser
realizado no Rio Grande do Norte, pela falta de leitos de Unidade de Terapia
Intensiva Pediátrica no Hospital Universitário Onofre Lopes, o neurocirugião
levará o caso à Universidade de São Paulo (USP), onde a cirurgia deverá ser
realizada. "Precisamos avaliar bem o local da cirurgia e montar uma equipe
multidisciplinar para participar do processo. Acredito, porém, que a
intervenção só será feita após o nono mês de nascimento das gêmeas",
ressaltou o médico.
A literatura médica brasileira não dispõe de muitos relatos quanto ao
nascimento de gêmeos pigópagos. No Brasil, segundo Angelo Silva Neto, que
também é professor universitário, não há estudos publicados quanto à separação
de gêmeos siameses unidos pelo cóccix. "Este poderá ser o primeiro caso e
servirá como fonte de estudo para ocorrências futuras", enfatizou.
Um caso similar foi registrado no Hospital Infantil da Universidade de
Birmingham, na Inglaterra, em 2004. Os gêmeos foram separados e sobreviveram ao
procedimento cirúrgico.
O cotidiano das gêmeas siamesas
O nascimento de duas meninas unidas pelo corpo não foi sinônimo de desespero
para Eucivânia Cunha. Natural de Alto
do Rodrigues, município da Região Oeste e distante 339 quilômetros de
Natal, Eucivânia fez todo o acompanhamento pré-natal na Maternidade Escola
Januário Cicco, na capital potiguar, em decorrência dos riscos apresentados
pela gestação.
Durante o pré-natal, Eucivânia comentou que os médicos lhe diziam que existia
a possibilidade das meninas se separarem ao longo do crescimento embrionário.
Entretanto, isto não ocorreu. "A gente pensa que isso nunca vai acontecer
na vida da gente, mas aconteceu e eu aceitei. Não considero que minha vida
mudou por causa disso", reiterou a mãe das gêmeas.
Mãe de uma menina de quatro anos de idade, Eucivânia relatou que o momento
mais difícil na lida com as gêmeas siamesas é durante o banho. "Sempre
preciso ter ajuda de alguém. Tem que ter cuidado com a coluna delas, segurar
direitinho. Por isso sempre alguém tem que segurar as meninas e a outra passar
o sabonete e água", explicou.
Ela disse, ainda, que não sofreu preconceito e as meninas são muito amadas
por toda a família. "As pessoas olhavam e achavam que não era normal. Mas
elas estão bem. Eu deixei Deus cuidar da minha vida e aceitei minhas filhas do
jeito que elas são", disse Eucivânia emocionada.
Sobre o que deseja para o futuro de Ana Clara e Any Vitória, Eucivânia se
emociona e, sorridente, resume que deseja que elas sejam felizes. "Desejo
muita saúde e que elas sejam muito felizes. A felicidade delas é a minha
felicidade", descreveu Eucivânia enquanto amamentava as meninas.
Fonte G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário