Além do saboroso mel medicinal,
do futebol do Matutão e da poeira, a cidade de Jandaíra sempre ganhou
notoriedade por ser ponto de parada das arribaçãs. A ave, nativa do continente
africano, atravessa o oceano em busca de comida e encontra, na mata jandairense,
uma planta chamada Marmeleiro.
Com a chegada do período chuvoso,
a flora do Marmeleiro é o prato principal das arribaçãs, mas a caça predatória
da ave sempre foi alvo de combate da polícia ambiental, antiga florestal, por
ser uma ave condenada à extinção, segundo estudos ambientalistas.
A fiscalização ambiental não se
restringia aos caçadores. Eram comuns fiscalizações em bares, restaurantes,
veículos automotivos e até em veículos de transporte de cargas.
Certa vez, o bar de D. Joaquina
recebeu um cliente muito despojado a gastança. D. Joaquina era uma idosa que
tinha um barzinho, ao lado do posto de gasolina, ponto de encontro de uma das
malocas mais animadas e criativas da cidade. O cardápio do bar oferecia,
basicamente, cachaça e no período da postura arribaçã.
O cliente chegou, pediu uma doze
da branquinha e perguntou o que tinha de tira-gosto. D. Joaquina, apesar da
idade e experiência, foi logo oferecendo a especialidade da casa: arribaçã
torrada. O cliente gostou tanto que quis levar algumas em sua viagem.
A veia, então, foi logo
oferecendo algumas que havia na geladeira. Insatisfeito, o rapaz disse que
tinha dinheiro suficiente para levar todo o seu estoque.
Com a felicidade nas alturas,
imaginando que tinha feito o melhor negócio da sua vida, D. Joaquina foi pra
cozinha e chamou o neto pra lhe ajudar: “vem cá, meu Nelo (Nilo), acabei de vender a
ribaçã todinha”.
O jovem magro, corpo atlético
feito jogador de buraco, pegou as sacolas e se dirigiu ao bar. Quando, de
repente, percebeu que o rapaz, aparentando ser viajante das estradas que ligam a
capital potiguar a região salineira do Estado, na verdade, era um samango a serviço da
antiga Polícia Florestal.
Triste e espantada com a
apreensão da sua mercadoria, D. Joaquina era só lamentação dizendo ao neto: “Mas,
meu Nelo, eu pensei que ele ia pagar”.
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